quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A busca continua – sempre

Sem companheiro, é verdade,
mas não sem esperança






Encalhada, titia, solteirona, enjeitada, desquitada. E ainda esquisita, histérica, frígida ou, horror dos horrores, feia. Houve um tempo em que esses termos abomináveis eram comuns para se referir à mulher madura sem marido. Hoje, não apenas estão soterrados na lata de lixo que engoliu tantos preconceitos como são pura e simplesmente inverídicos. Basta olhar à própria volta para constatar: a brasileira moderna que bate na casa dos 40 sem um homem para chamar de seu não tem, em geral, nada do antigo estereótipo da solteirona. Ao contrário, costuma ser vaidosa, bem informada, independente financeiramente e dona de um aguçado foco profissional. Essas mulheres não estão sozinhas, reconheça-se, porque querem. Embora exigentes na hora de escolher o parceiro ideal, elas não desistem de procurá-lo. Querem, sim, como quase todo ser humano, encontrar alguém para compartilhar os bons e os maus momentos da vida, ter uma companhia, um amigo, um amante, uma outra metade.
A notícia ruim é fartamente conhecida: está difícil encontrar um homem assim. A experiência indica que muitas mulheres nessa faixa vão passar grandes períodos sem um parceiro fixo, se é que o terão. A carioca Mônica Lopes é uma dessas mulheres. Morena de sorriso contagiante, dona de uma produtora de eventos culturais, ela tem 47 anos, é solteira e, de 1999 para cá, não teve nenhum relacionamento fixo. Namoros duradouros, com jeito de casamento, foram três nos dezessete anos em que morou na Alemanha, mas, desde que voltou para o Brasil, a coisa não engrenou. "Adoraria amar de novo", diz Mônica. "Não acredito em quem diz que não quer ninguém do lado. Mulher nenhuma quer morrer sozinha." Gerente-residente de um hotel de luxo do Rio de Janeiro, Andréa Natal, de 41 anos, pensa de forma muito parecida. "Gostaria de me apaixonar, ter uma nova história, envelhecer junto com alguém", diz ela, que foi casada por cinco anos, é mãe de um menino, e há sete anos está solteira novamente.

BARRIGUINHA
Fátima Lomba, agora grávida: "Sou como adolescente, também 'fico'. Mas cheguei a ficar dois anos sem dar beijo na boca"

Se os corações estão tão disponíveis, o que tanto impede mulheres assim de encontrar o amor? Em primeiro lugar, elas são produto dos tempos modernos e do próprio sucesso. A partir do momento em que uma mulher consegue prover seu sustento, é muito provável que não aceite um casamento a qualquer preço, do tipo esta é a única saída para a sobrevivência econômica e social. Se casada, também diminuem as possibilidades de que se submeta às frustrações ou humilhações de uma união infeliz. Quando demoram a encontrar um parceiro adequado ou voltam ao mercado emocional, depois de um relacionamento mais longo, essas mulheres caem na armadilha da incompatibilidade etária, pois os homens disponíveis, já escassos, estão interessados em companheiras mais jovens. Por fim, sem encontrar uma companhia, muitas delas se acostumam às vantagens da vida-solo: a independência, as decisões rápidas e não discutidas, a casa inteirinha para si, as manhãs de domingo com uma toalha enrolada na cabeça... Abrir mão disso, pensam, só por um homem que realmente valha a pena. E aí o círculo se fecha: esse sujeito não está à vista.
A maior seletividade é um fato da vida, inevitável. "O grau de exigência da mulher aumentou muito em razão da independência financeira que ela conquistou. Estamos mais criteriosas", concorda Regina Butrus, 47 anos, solteira. Procuradora do Ministério Público do Trabalho, Regina acredita que não é qualquer parceiro que entende a rotina profissional de uma mulher bem-sucedida. "O homem é pouco compreensivo com a mulher que tem uma carreira. É complicado, por exemplo, que ela atenda uma ligação telefônica em casa, no meio da noite, para tratar de trabalho. Não é qualquer um que entende." Em compensação, mulheres resolvidas profissionalmente tendem a valorizar menos o histórico papel de provedor do homem. "Não preciso de um homem que ache que sua função é me ajudar a ir em frente", diz a empresária mineira Fátima Lomba, 37 anos, uma filha. "Quero um homem legal, para andar de mãos dadas, ir ao cinema. E que também me ofereça um ombro para eu contar minhas tristezas." Dona de uma badalada butique no Rio de Janeiro, Fátima teve um casamento de dez anos e se separou há seis. Desde então, não surgiu nenhum namoro sério. "Cheguei a ficar dois anos sem dar um beijo na boca", confidencia.

FALA SÉRIO 
Andréa Natal, sobre as "dicas" hilárias que já ouviu: "Me aconselharam a entrar para um clube ou freqüentar alguma igreja"

Acusadas de estar sozinhas devido a um grau de exigência impossível de ser atendido, mulheres como Fátima insistem em desmentir a fama de enjoadas. "Não precisa ser um homem com poder aquisitivo alto. Nem precisa ser um homem culto, mas tem de ser inteligente", diz Fátima. "Adoro homem careca, com uma barriguinha. Pode ser até um gari. Mas não pode ser um perdedor. Ele terá de ser o melhor dos garis", avisa Mônica Lopes. Onde encontrar esse par, que, se não é o príncipe encantado, é pelo menos um parceiro aceitável? Ergue-se aí outro obstáculo: para profissionais ocupadas com o trabalho e, eventualmente, com filhos, sobram poucas opções. Endereços habituais, como barzinhos e outros pontos de balada, além de pouco produtivos, podem passar exatamente a imagem oposta à desejada – a da mulher desesperada, a fim de qualquer coisa. "Não gosto de nenhum tipo de programa que dê a impressão de que estou à caça", diz Regina Butrus. "Não vou a uma boate sozinha, nem a bares." Como dica de lugares para conhecer alguém interessante, a gerente Andréa Natal já ouviu coisas que seriam piadas, se não fossem sérias. "Me aconselharam a entrar de sócia para um clube ou que eu passasse a freqüentar alguma igreja", conta.
E a falta que um homem faz? E o sexo? E o vazio no coração? "Aprendi a curtir a solidão", diz Andréa. "Descobri que posso ficar bem lendo um livro, cuidando das plantas, passeando com o cachorro. Não é uma solidão triste", garante, embora confesse que adoraria ter um homem do lado na hora de ler o manual do novo videocassete, por exemplo. "Mandar o carro para o conserto e abrir vidro de palmito também são tarefas que os homens desempenham como ninguém", lembra, com humor, Regina Butrus. Desenvolvem-se também alternativas discretas para algumas das carências. "Há uma legião de mulheres que têm amigos que ajudam a dar uma aliviada na tensão sexual", conta Mônica Lopes. É um tipo de parceria sexual e de amizade que, segundo ela, convém aos dois lados. Há, porém, limitações óbvias. "Orgasmo faz bem ao corpo e à alma, mas não fico plenamente satisfeita. Há mais sensação do que emoção", analisa Mônica, que também não gosta de sexo casual, com quase desconhecidos, à moda do "ficar", como fazem os mais jovens. Fátima Lomba é de outra opinião. "Sou como adolescente, também 'fico'", diz. Numa dessas, ela se descuidou. Entre a data em que foi entrevistada para esta reportagem e o dia em que posou para as fotos, descobriu-se grávida de um parceiro ocasional. Resolveu assumir a alegria e o desafio de ser mãe por conta própria. Não desistiu, porém, de encontrar um companheiro. A busca continua.
 
  

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