Contéudo do site da revista Saúde
Depois de sucessivas noites sonhando com uma banana entalada na garganta e acordando com uma nítida sensação de sufocamento, a mulher resolveu investigar. Que raios aquele pesadelo queria dizer? Seria a revelação de alguma perversão sexual até então oculta, como suspeitaria um discípulo do austríaco Sigmund Freud (1856-1939), o pai da psicanálise? Achava que não. Em vez de psicanalista, procurou um médico. E descobriu que, no momento do devaneio inconsciente, aconteciam na vida real pequenas paradas respiratórias -- a apneia do sono -- que provocam microdespertares ao longo da noite.
Quem desvendou o significado do tormento onírico foi a equipe do neurologista Luciano Ribeiro Pinto Júnior, do Instituto do Sono, em São Paulo. "Sonhos desagradáveis como esse podem ocorrer como consequência de um desconforto físico ou até de uma doença", diz. Ou seja, em alguns casos o enredo dessa maquinação da mente adormecida pode ter uma relação direta com o estado de saúde do indivíduo. Estudos realizados nos últimos anos permitem especular que um registro regular do seu conteúdo possa ajudar no diagnóstico de diversos problemas.
O dormir é um processo neurológico complexo. Hoje sabe-se que, das cinco fases do sono pelas quais passa qualquer pessoa que dorme dentro da normalidade, o período dos sonhos é uma das mais importantes como indicador de saúde. Na primeira metade da noite, ondas cerebrais lentas predominam e podem ocorrer sonhos dos quais a maioria não se lembra. Depois vem o intervalo dos sonhos mais vívidos, a chamada fase paradoxal do sono, que é mais conhecida pela sigla em inglês REM: rapid eyes movement — movimento rápido dos olhos. Nesse momento, o corpo fica totalmente relaxado, mas a mente está a toda. Uma redução na latência do sono REM é hoje um marcador biológico da depressão, por exemplo.
Por falar em depressão, pesquisadores alemães confirmaram que os depressivos tendem a ter sonhos com tons mais negativos e com mais experiências desagradáveis. O mesmo grupo de cientistas demonstrou que a gravidade dos sintomas do distúrbio era diretamente correlacionada à intensidade das emoções nada positivas nos sonhos -- temas como agressão e morte eram frequentes. Além da tristeza sem fim, entram na lista de encrencas suspeitas de trazer consigo sustos na calada da noite Parkinson, Alzheimer, esquizofrenia, enxaqueca, asma, ansiedade e bronquite, só para citar algumas.
As perturbações nos sonhos são, de fato, marcadores extremamente sensíveis de desequilíbrios mentais e físicos. "De alguma forma o cérebro, ao sonhar, detecta os processos biológicos alterados antes mesmo de eles chegarem à consciência", diz o psicólogo Péter Simor, pesquisador da Universidade de Semmelweis, em Budapeste, na Hungria. Embora os estudos também procurem identificar padrões de sonhos conforme a constância, a repetição e os temas, o que tem se mostrado mais relevante para a medicina é o teor emocional das histórias sonhadas e o que a pessoa sente ao acordar.
Até o momento, a ciência acumula bem mais descobertas sobre as funções do sono do que dos sonhos. E para dormir tranquilo os médicos recomendam um ritual relaxante antes de ir para a cama: baixar a intensidade da luz, ficar em silêncio, ler ou ouvir música calma e dar um jeito de não pensar nos problemas na hora de apagar. E, se sonhar, anotar tudo no dia seguinte. Nunca se sabe.
Freud e Jung
Sigmund Freud foi o primeiro a dar um caráter científico à investigação do conteúdo onírico, com a publicação do livro A Interpretação dos Sonhos, em 1899. Para Freud, eles seriam uma tentativa de realizar desejos reprimidos, especialmente os da infância. Já para seu discípulo, o suíço Carl Gustav Jung (1875-1961), os sonhos eram uma ferramenta da mente na busca de equilíbrio. Sua teoria da compensação ditava que, na existência de um desbalanço entre a mente consciente e o inconsciente, ou seja, uma neurose ou uma psicose, a psique teria a missão de lançar pistas para a mente, na tentativa de consertar — ou compensar — o problema. Essas pistas viriam na forma de sonhos.
Efeitos colaterais oníricos
Antidepressivos
Os inibidores seletivos de recaptação de serotonina são atualmente os remédios mais usados no tratamento de distúrbios psiquiátricos como depressão, ansiedade e bulimia. Eles podem dar a sensação de que a pessoa está sonhando muito mais que o normal, e os sonhos podem ser mais intensos. Mas um ajuste na dose ou nos horários da medicação pode resolver o problema. Já os antidepressivos tricíclicos diminuem e chegam até a suprimir o sono REM.
Tranquilizantes e ansiolíticos
Esses remédios provocam sonolência e tendem a encurtar o sono REM. Largar o tratamento depois de já ter desenvolvido dependência ou tolerância à medicação também pode alterar gravemente o padrão de sono, incluindo uma fase REM espichada, mais sonhos e despertares durante a noite. Tanto quanto ocorre com os antidepressivos, o efeito ricochete será maior quanto maiores forem as doses e a duração do tratamento. Pesadelos estão entre os efeitos colaterais relatados por usuários.
Quem desvendou o significado do tormento onírico foi a equipe do neurologista Luciano Ribeiro Pinto Júnior, do Instituto do Sono, em São Paulo. "Sonhos desagradáveis como esse podem ocorrer como consequência de um desconforto físico ou até de uma doença", diz. Ou seja, em alguns casos o enredo dessa maquinação da mente adormecida pode ter uma relação direta com o estado de saúde do indivíduo. Estudos realizados nos últimos anos permitem especular que um registro regular do seu conteúdo possa ajudar no diagnóstico de diversos problemas.
O dormir é um processo neurológico complexo. Hoje sabe-se que, das cinco fases do sono pelas quais passa qualquer pessoa que dorme dentro da normalidade, o período dos sonhos é uma das mais importantes como indicador de saúde. Na primeira metade da noite, ondas cerebrais lentas predominam e podem ocorrer sonhos dos quais a maioria não se lembra. Depois vem o intervalo dos sonhos mais vívidos, a chamada fase paradoxal do sono, que é mais conhecida pela sigla em inglês REM: rapid eyes movement — movimento rápido dos olhos. Nesse momento, o corpo fica totalmente relaxado, mas a mente está a toda. Uma redução na latência do sono REM é hoje um marcador biológico da depressão, por exemplo.
Por falar em depressão, pesquisadores alemães confirmaram que os depressivos tendem a ter sonhos com tons mais negativos e com mais experiências desagradáveis. O mesmo grupo de cientistas demonstrou que a gravidade dos sintomas do distúrbio era diretamente correlacionada à intensidade das emoções nada positivas nos sonhos -- temas como agressão e morte eram frequentes. Além da tristeza sem fim, entram na lista de encrencas suspeitas de trazer consigo sustos na calada da noite Parkinson, Alzheimer, esquizofrenia, enxaqueca, asma, ansiedade e bronquite, só para citar algumas.
As perturbações nos sonhos são, de fato, marcadores extremamente sensíveis de desequilíbrios mentais e físicos. "De alguma forma o cérebro, ao sonhar, detecta os processos biológicos alterados antes mesmo de eles chegarem à consciência", diz o psicólogo Péter Simor, pesquisador da Universidade de Semmelweis, em Budapeste, na Hungria. Embora os estudos também procurem identificar padrões de sonhos conforme a constância, a repetição e os temas, o que tem se mostrado mais relevante para a medicina é o teor emocional das histórias sonhadas e o que a pessoa sente ao acordar.
Até o momento, a ciência acumula bem mais descobertas sobre as funções do sono do que dos sonhos. E para dormir tranquilo os médicos recomendam um ritual relaxante antes de ir para a cama: baixar a intensidade da luz, ficar em silêncio, ler ou ouvir música calma e dar um jeito de não pensar nos problemas na hora de apagar. E, se sonhar, anotar tudo no dia seguinte. Nunca se sabe.
Freud e Jung
Sigmund Freud foi o primeiro a dar um caráter científico à investigação do conteúdo onírico, com a publicação do livro A Interpretação dos Sonhos, em 1899. Para Freud, eles seriam uma tentativa de realizar desejos reprimidos, especialmente os da infância. Já para seu discípulo, o suíço Carl Gustav Jung (1875-1961), os sonhos eram uma ferramenta da mente na busca de equilíbrio. Sua teoria da compensação ditava que, na existência de um desbalanço entre a mente consciente e o inconsciente, ou seja, uma neurose ou uma psicose, a psique teria a missão de lançar pistas para a mente, na tentativa de consertar — ou compensar — o problema. Essas pistas viriam na forma de sonhos.
Efeitos colaterais oníricos
Antidepressivos
Os inibidores seletivos de recaptação de serotonina são atualmente os remédios mais usados no tratamento de distúrbios psiquiátricos como depressão, ansiedade e bulimia. Eles podem dar a sensação de que a pessoa está sonhando muito mais que o normal, e os sonhos podem ser mais intensos. Mas um ajuste na dose ou nos horários da medicação pode resolver o problema. Já os antidepressivos tricíclicos diminuem e chegam até a suprimir o sono REM.
Tranquilizantes e ansiolíticos
Esses remédios provocam sonolência e tendem a encurtar o sono REM. Largar o tratamento depois de já ter desenvolvido dependência ou tolerância à medicação também pode alterar gravemente o padrão de sono, incluindo uma fase REM espichada, mais sonhos e despertares durante a noite. Tanto quanto ocorre com os antidepressivos, o efeito ricochete será maior quanto maiores forem as doses e a duração do tratamento. Pesadelos estão entre os efeitos colaterais relatados por usuários.
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