quinta-feira, 7 de abril de 2011

Especial: redução de estômago Os riscos e benefícios da cirurgia que já mudou a vida de 150 mil brasileiros obesos

Há 14 anos, a família Ferreira somava mais de 400 quilos. Hoje, cinco cirurgias bariátricas depois, esse número não chega a 200. Todos eles – mãe, pai e três filhos – reduziram seus pesos pela metade. Eles fazem parte dos 150 mil brasileiros que já se submeteram à cirurgia de redução de estômago.
Segundo o último levantamento da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, só em 2010 foram realizados mais de 60 mil procedimentos desse tipo, um número três vezes maior do que em 2005.
“Esse crescimento se deve ao aumento no número de obesos, a mais informações sobre o tema e à videolaparoscopia, que permite a realização da cirurgia sem grandes cortes”, avalia Ricardo Cohen, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM).
A obesidade é a epidemia do século e atinge um em cada dez adultos em todo mundo. Segundo dados levantados pela Pesquisa de Orçamentos Familiares, realizada pelo IBGE, mais da metade da população brasileira está acima do peso, e 3,5 milhões são obesos mórbidos.
A cirurgia bariátrica é um recurso radical para o tratamento da obesidade mórbida. Ela é indicada quando há um excesso de peso acentuado e severo, ou seja, capaz de colocar em risco a saúde do paciente.
“Esse tipo de procedimento não está ligado às questões estéticas. É uma alternativa para que o indivíduo possa ter mais qualidade de vida”, destaca Vladimir Schraibman, especialista em gastrocirurgia do Hospital Albert Einstein, em São Paulo.
O indicador utilizado hoje  para definir quem pode ser submetido à operação é o Índice de Massa Corpórea (IMC), resultado da divisão do peso pela altura ao quadrado. Quem tem o peso ideal apresenta índices entre 18 e 25. De 25 a 30, a pessoa está acima do peso e acima de 30 já é considerada obesa.
As cirurgias, no entanto, são indicadas somente quando o IMC é igual ou superior a 35 (quando associado a outras comorbidades, como hipertensão ou diabetes) ou igual ou superior a 40 (sem doenças associadas).
Além disso, para ser considerado apto para a cirurgia o obeso já precisa ter tentado tratamentos anteriores sem sucesso, estar estabilizado naquele peso há dois anos e não ter contraindicações clínicas para ser operado.
Mas as regras podem mudar em breve. “Não devemos levar em conta somente esse índice. O Mike Tyson, por exemplo, tinha um IMC de 41 e nem por isso era indicado para a cirurgia. Precisamos, além disso, observar as doenças associadas e a circunferência abdominal”, afirma Ricardo Cohen.
É preciso estar ciente de todos os riscos inerentes a um procedimento cirúrgico. “É cada vez mais comum pacientes que ignoram perigos como hemorragia, infecção, formação de coágulos e até a morte”, alerta o cirurgião do Hospital Bandeirantes, Denis Pajecki. “O risco de mortalidade é de 0,25% e de complicações severas de 1,5 a 2%”, diz Cohen. O Conselho Federal de Medicina (CFM) aprova quatro tipos de cirurgias: bypass gástrico, gastrectomia vertical, banda gástrica e derivação biliopancreática. Confira o infográfico sobre como elas são feitas.
Pós-operatório
Após a operação, o paciente deverá seguir as estritamente recomendações médicas. Logo no início, a alimentação será somente com líquidos, passando para alimentos pastosos e finalmente retornando aos sólidos. Mas esse será apenas o primeiro obstáculo.
“O mais difícil é o obeso transformar a cabeça. Precisamos prepará-lo para que ele não fique magro com cabeça de gordo”, relata Thomas Szego, ex-presidente da SBCBM e diretor do Centro de Cirurgia da Obesidade, em São Paulo. O cirurgião reforça a necessidade de uma equipe multidisciplinar no acompanhamento de cada caso.
É preciso ter consciência que o tratamento é para sempre, as restrições alimentares, a suplementação com vitaminas (quando necessária) e o acompanhamento médico serão constantes.
“A cirurgia é muito efetiva nos três primeiros anos do ponto de vista hormonal. Porém se o paciente não seguir as recomendações médicas e não fizer o acompanhamento proposto as chances de recidiva são de até 20 % após 5 ou 10 anos de cirurgia”, alerta Alexandre Amado Elias, da Sociedade Brasileira e Internacional de Cirurgia Bariátrica e cirurgião do Hospital São Luiz.

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