quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Mais sobre a dieta sem glútem



Conteúdo do site minha vida.com


A dieta sem glúten nem laticínios, da apresentadora Luciana Gimenez, tem despertado a curiosidade de quem deseja perder quilos com rapidez. As restrições no cardápio levam à perda de quatro quilos em três semanas, aproximadamente. Mas, segundo a nutróloga Elle Simone Paiva, o esforço não compensa. Isso porque o glúten é uma proteína que está presente numa série de alimentos muito consumidos no Brasil. "Além de causar uma deficiência nutricional, o corte de glúten sem acompanhamento não emagrece (avaliação de peso)", afirma a especialista. Deixar de consumir o leite e seus derivados também é um perigo.

A exceção fica por conta dos portadores da doença celíaca, que sofrem com alterações na parede do intestino. Nesses pacientes, a digestão é prejudicada sempre que o organismo entra em contato com o glúten. A seguir, você entende mais sobre os mitos envolvendo mais uma dieta da moda e descobre por que é muito mais saudável emagrecer comendo de tudo.

Qual a importância do glúten para nosso organismo?O glúten é uma proteína (guia de alimentação) que está presente no trigo, na aveia, no centeio, na cevada, no malte e nos seus derivados. Ele está presente nos pães, nas massas, na cerveja, no uísque, no ovomaltine e em mais uma infinidade de produtos industrializados. A importância dele na dieta é muito relativa, uma vez que se trata de uma proteína de baixo valor nutricional, ou seja, que não possui todos os aminoácidos essenciais, como é o caso daqueles encontrados no ovo, no leite e nas carnes. Isso significa que, para uma pessoa vegetariana, o glúten não pode substituir a proteína animal em sua plenitude e, nem mesmo, a proteína da soja.

Ele realmente "rouba" os nutrientes dos alimentos?
O glúten não rouba nenhum nutriente de uma dieta em pessoas saudáveis, ou seja, que não sofrem da chamada Doença Celíaca. Essa questão ainda gera polêmica, porque a Doença Celíaca pode ser assintomática, impedindo que o tratamento seja realizado e o glúten, suspenso. Nesses casos há uma deficiência na absorção dos nutrientes pela presença do glúten na dieta. Mas isso não se aplica às pessoas saudáveis.

É verdade que o glúten atrapalha a digestão?O glúten também não interfere na digestão e nem impede a eliminação de toxinas. Essa confusão deve-se ao fato de que, nas pessoas com a Doença Celíaca, há uma intolerância do organismo às proteínas do glúten, que causam lesões à parede intestinal e, em última análise, provocam uma dificuldade na absorção dos alimentos. As paredes internas do intestino delgado possuem vilosidades que são como "braços", responsáveis pela absorção de macronutrientes como proteínas, carboidratos e gorduras, e micronutrientes, como vitaminas, ferro, cálcio, dentre outros. Quando uma pessoa com doença celíaca ingere alimentos com glúten, essa proteína, desencadeia uma reação imunológica que leva à atrofia da parede intestinal, incapaz de absorver os nutrientes da alimentação. Muitas vezes esse processo causa diarréia crônica. A desnutrição é a regra nesses pacientes, pois eles ficam privados de seus nutrientes básicos.

Há risco de desnutrição numa dieta que impede o consumo de glúten e laticínios?Sim, há riscos, principalmente quando esses pacientes não sabem balancear os alimentos ou realizar as substituições adequadas. Para conseguir a adesão do paciente ao tratamento e tornar a dieta mais tolerável, é preciso substituir os alimentos que contenham glúten por opções que agradem o paladar. Entram neste rol os derivados do milho (amido de milho, farinha de milho, fubá), os derivados do arroz (como a farinha de arroz), os derivados da batata (como a fécula de batata). No Brasil, temos a mandioca, muito apreciada pela população, da qual podemos obter farinha, polvilho azedo, polvilho doce e tapioca.

E o consumo de leite, por que é restrito?Muitas vezes, restringimos o consumo de laticínios nos portadores de Doença Celíaca devido ao efeito fermentativo da lactose nesses pacientes, principalmente quando há diarréia. Isso pode ser facilmente compensado com o uso de leite sem lactose, disponível no mercado, ou com bebidas à base de soja suplementadas com cálcio. O leite de soja sem suplementação não substitui o leite de vaca em termos nutricionais.

Que tipo de prejuízos essas duas restrições trazem à saúde?No doente celíaco, a restrição é a única forma de tratamento e melhora seu estado nutricional. Quem não sofre com a doença não tem nenhum benefício na restrição. De fato, essas pessoas saudáveis que tentam restringir glúten, na verdade, não fazem restrição completa, pois isso significaria não comer pães em geral, macarrão, pizzas, bolos, bebidas alcoólicas fermentadas (cerveja) e destiladas (uísque) e uma grande variedade de outros alimentos. No caso das pessoas saudáveis, a reintrodução do glúten na dieta, após suspensão relativa ou absoluta por algum tempo, não traz nenhum tipo de intolerância. Nos celíacos, toda e qualquer exposição ao glúten desencadeia as reações já descritas.

Cortar o glúten e os laticínios ou mantê-los, mas cortar as calorias, traz os mesmos resultados?Cortar glúten e/ou laticínios não acelera emagrecimento, pois geralmente as pessoas substituem os alimentos, e não ficam simplesmente sem eles.

É muito difícil cortar o glúten da dieta?Não é fácil cortar o glúten da dieta devido à enorme variedade de alimentos que utilizam esta proteína, principalmente os derivados do trigo. Esse alimento é mundialmente utilizado, independente da cultura dos povos. Mesmo com a legislação que obriga a informação da presença ou ausência do glúten nos rótulos, é difícil seguir corretamente essa restrição. Em outros países como a Inglaterra e Estados Unidos, os pacientes celíacos encontram muito mais variedade de alimentos sem glúten.

Qual o período máximo que esta dieta pode ser adotada sem ameaçar o bom funcionamento do organismo?Nos celíacos, esta dieta deve ser feita durante toda a vida e nas pessoas normais ela não tem indicação.

Que riscos existem nesta dieta, sem acompanhamento?O principal alerta é de que a restrição do glúten não deve ser realizada por pessoas sem doença Celíaca e, muito menos, com o intuito de emagrecer. Com relação aos portadores da doença, o acompanhamento nutricional permite que eles tenham melhores condições de vida e sociabilidade, pois poderão ampliar suas opções alimentares.

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